Lévinas, o grande amigo |
Do rosto
Com J. D. Salinger e Thomas
Pynchon, Maurice Blanchot faz parte dos escritores que sistematicamente se
recusaram a conceder a imprensa fotografias.
De fato, há apenas três fotografias conhecidas de Blanchot, dadas por seu amigo
Emmanuel Lévinas, às quais se deve acrescentar a « foto roubada» de 1985, tirada
por um paparazzo em um subúrbio parisiense. Ainda que ela não seja sem relação
ao interdito da representação própria à religião judaica, a recusa de Blanchot
anda antes de tudo de mãos dadas com seu discurso sobre o apagamento, até mesmo
o desaparecimento « mundano», do artista.
Em uma carta datada de 6 junho de 1990, o fotógrafo Jean-Marc de Samie interrogou Maurice Blanchot sobre sua relação com o rosto humano, ao mesmo tempo que evita lhe pedir a autorização para fotografá-lo. Delicada questão à qual Maurice Blanchot respondeu nesses termos.
Em uma carta datada de 6 junho de 1990, o fotógrafo Jean-Marc de Samie interrogou Maurice Blanchot sobre sua relação com o rosto humano, ao mesmo tempo que evita lhe pedir a autorização para fotografá-lo. Delicada questão à qual Maurice Blanchot respondeu nesses termos.
Caro Senhor,
Agradeço por fazer chegar até a mim o rosto (fotografado) de um de meus amigos
mais caros, e o mais antigo, Emmanuel Lévinas.
Tu me perguntas também o que evoca a palavra « rosto ». Precisamente, Lévinas nos disse de uma maneira profunda: o rosto é outrem, o extremo longínquo que de repente se apresenta de face, a descoberto, na franqueza do olhar, na nudez de um contato que na proíbe, quando outrem se revela a mim como aquilo que está fora e acima de mim, não porque ele seria o mais potente, mas porque aí cessa meu poder. Diante do rosto, diz ainda Lévinas, não penso mais poder. Eticamente, proibição e impossibilidade de matar. Podemos evidentemente propor definições mais ordinárias: metafisicamente o rosto é a exterioridade da interioridade, mas o fora permanece aquilo que há de infigurável na figura. Eticamente, o rosto é a Lei. Confronto-me, face ao rosto, com a resistência do que não resiste a mim em nada.
Por fim, esteticamente, o rosto é derradeira aparição do que desaparece, o invisível que se dá a ver ao se esquivar e escapar. Perdão por me ater a essas poucas palavras que não valem o silêncio.
Tu me perguntas também o que evoca a palavra « rosto ». Precisamente, Lévinas nos disse de uma maneira profunda: o rosto é outrem, o extremo longínquo que de repente se apresenta de face, a descoberto, na franqueza do olhar, na nudez de um contato que na proíbe, quando outrem se revela a mim como aquilo que está fora e acima de mim, não porque ele seria o mais potente, mas porque aí cessa meu poder. Diante do rosto, diz ainda Lévinas, não penso mais poder. Eticamente, proibição e impossibilidade de matar. Podemos evidentemente propor definições mais ordinárias: metafisicamente o rosto é a exterioridade da interioridade, mas o fora permanece aquilo que há de infigurável na figura. Eticamente, o rosto é a Lei. Confronto-me, face ao rosto, com a resistência do que não resiste a mim em nada.
Por fim, esteticamente, o rosto é derradeira aparição do que desaparece, o invisível que se dá a ver ao se esquivar e escapar. Perdão por me ater a essas poucas palavras que não valem o silêncio.
Expresso-te meus melhores sentimentos. Maurice Blanchot
Tradução de Eclair Antonio Almeida Filho
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