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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013



Lévinas, o grande amigo
Do rosto

Com J. D. Salinger e Thomas Pynchon, Maurice Blanchot faz parte dos escritores que sistematicamente se recusaram a conceder a imprensa fotografias. De fato, há apenas três fotografias conhecidas de Blanchot, dadas por seu amigo Emmanuel Lévinas, às quais se deve acrescentar a « foto roubada» de 1985, tirada por um paparazzo em um subúrbio parisiense. Ainda que ela não seja sem relação ao interdito da re­presentação própria à religião judaica, a recusa de Blanchot anda antes de tudo de mãos dadas com seu discurso sobre o apagamento, até mesmo o desaparecimento « mundano», do artista.
Em uma carta datada de 6 junho de 1990, o fotógrafo Jean-Marc de Samie interrogou Maurice Blanchot sobre sua relação com o rosto humano, ao mesmo tempo que evita lhe pedir a autorização para fo­tografá-lo. Delicada questão à qual Maurice Blanchot respondeu nesses termos.

Caro Senhor,

Agradeço por fazer chegar até a mim o rosto (fotografado) de um de meus amigos mais caros, e o mais antigo, Emmanuel Lévinas. 
Tu me perguntas também o que evoca a palavra « rosto ». Precisamente, Lévinas nos disse de uma maneira profunda: o rosto é outrem, o extremo longínquo que de repente se apresenta de face, a descoberto, na franqueza do olhar, na nudez de um contato que na proíbe, quando outrem se revela a mim como aquilo que está fora e acima de mim, não porque ele seria o mais potente, mas porque aí cessa meu poder. Diante do rosto, diz ainda Lévinas, não penso mais poder. Eticamente, proibição e impossibilidade de matar. Podemos evidentemente propor definições mais ordinárias: metafisicamente o rosto é a exte­rioridade da interioridade, mas o fora permanece aquilo que há de infigurável na figura. Eticamente, o rosto é a Lei. Confronto-me, face ao rosto, com a resistência do que não resiste a mim em nada.
Por fim, esteticamente, o rosto é derradeira aparição do que desaparece, o invisível que se dá a ver ao se esquivar e escapar. Perdão por me ater a essas poucas palavras que não valem o silêncio. 
Expresso-te meus melhores sentimentos. Maurice Blanchot

Tradução de Eclair Antonio Almeida Filho

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