Inscrições e informações: Instituto de Artes do Pará (IAP), Gerência de Literatura - 40062905 ou 2908.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013




ECOS DE BLANCHOT & MAX


Velhos homens devem ser exploradores, não importa onde...
Temos de estar sempre nos movendo na direção de uma nova intensidade, de uma
união a mais, de uma comunhão mais profunda...
Nos movendo através de uma desolação escura, fria e vazia: O grito das ondas, o
grito do vento, as águas imensas das gaivotas e dos golfinhos: No meu fim está o
meu inicio (T. S. ELIOT).


Não há espaço, sem tempo. Não há tal coisa como espaço em branco. Sempre se poderá imaginar a vinda – a chegada. Que alguma coisa ainda deve acontecer. Dois homens, um romancista e um poeta, estabelecem um passível jogo. Que estejam tensos, pois o tempo constitui a tensão. Espaço-tempo se dividindo em dois. A respiração, realizada de volta entre um e outro, fala em tempo de silêncio, em espaço de silêncio – a literatura. Um dos homens atende à porta. Olha para baixo. A cabeça inclinada para o chão como um guardião na sala da hospedaria do Castelo. Apenas que aqui ele não está num retrato. Observada, a imagem não o confirma numa morfologia para os olhos que se tornará o demônio de uma longa época. Certo estrabismo a certa semiótica da reflexividade. Ele se desprende da foto, sem no entanto avançar no espaço. O outro não questiona a importância de ficar ali parado, uma vez que também está parado e recolhido em si. Sem rasgar a ilusão de espaço, na distância limite de um saltar para o outro, apertarem-se as mãos: se dá o duplo desvio. As mãos estendidas em silêncio criam lacunas, desprendem-se, desvanecem. Eles que sempre estiveram além dos horizontes da aparência. Agora, face a face, não têm como pronunciar um discurso de circunstância e lançar âncora entre os musgos. Um rastreou o outro, é verdade, mas sem nunca o mapear. Leu o livro “Thomas, o Obscuro” quando ainda escrevia seu segundo livro, e entregava-se definitivamente à feitiçaria do poema. O outro nunca o avistou. Este poderia ser o cenário tardio entre os dois homens. A respiração sempre foi o maior problema para eles. Passeando a vida, o fim à vista. Para eles o desastre cuida de tudo. E o rápido sorriso corajoso não bastaria. A aquiescência da cabeça. O olhar. Tudo isso assusta o inferno dentro deles. Por certo, ele deveria ter gostado de ler com minúcia e atenção insuperáveis o “Anti-Retrato” ou mesmo o “Caminho de Marahu”. A escritura do desterro que tanto o agradava. E teria visto Kafka e Paul Celan, em alguns versos. Os signos da solidão. A experiência do desmoronamento. A falta vivente do ser. Não teria sido exatamente isto a escritura desse outro que, alheio, estranho, lhe bate à porta, num fim de outono? O que seria o mesmo que dizer: desde que entrara para a poesia? Um homem de uma terra desfalecente, onde a vida e a cultura não passam de uma quimera? Onde o poema, justamente depois de um amplo movimento internacional de três poetas, passou a valer menos que qualquer slogan publicitário. Fora do mercado, ter que ganhar a vida – trocar, vender, perder, dar, recuperar, perder outra vez. Amores. Alegrias insensatas. As grandes dores. Um homem impelido a dar seus passos em direção ao ócio e ao silêncio. Para quem a amizade pela poesia não se estrutura em ter que percorrer o mesmo caminho. Amizade é mudar o caminho. Errá-lo. Não entrar na geração. Surpreendê-la pelos flancos. O Inesperado. Não esperar que se confirme a Revelação. E como aquelas doze baladas a que Nietzsche se refere que contamos sempre errado. Não há o encontro marcado, sequer conosco mesmo... “Mas como eu, ele foi parecido comigo”. De onde poderá ter ecoado isto?


Ney Ferraz Paiva, 20 de fevereiro 2013.
Imagem: Jacob Bijani

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