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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Maurice Blanchot e Emmanuel Levinas: Amizade

COLÓQUIO BLANCHOT: LITERATURA, AMIZADE: UMA VIDA
Dez anos da Morte de Maurice Blanchot


Maurice Blanchot atravessou o último século e deixou um valioso lastro de contribuição, tanto na literatura, quanto no pensamento, constituindo uma referência inteiramente singular nas formas de pensar a experiência literária.   Blanchot se revela um autor-leitor, ao mesmo tempo em que convoca, além de si mesmo, na amizade, sua comunidade literária, notadamente com Mallarmé, Hölderlin, Kafka, René Char, Bataille, para escrever com ele. Dessa maneira, efetua uma relação entre a amizade – a tentativa de abordar o outrem – e o escrever, e desse convívio criam-se momentos em que algo é lido/escrito ou que alguém escreve/lê – uma conversa vencida pelo extenuamento, que, por sua vez, transforma a conversa, e retira-lhe o comum, a troca, ao possibilitar no ato da escrita outra partilha.

Blanchot, a partir de um projeto de escrita que se dobra simultaneamente entre a crítica e a ficção [numa investida que explora, para além das possibilidades, a destruição dos gêneros], deflagra uma miríade de experimentações, por entre obras e autores – em abordagens marcadas por uma singularidade – com os quais produz noções como: Fora, Desdobramento, Neutro, Amizade. Com isso, provoca uma verdadeira fissura no pensamento literário, e influencia toda uma geração de escritores, de artistas, e de pensadores da segunda metade do século XX.

Dentre tantos encontros, destacam-se os de Blanchot com Bataille [comunidade dos sem comunidade]; com Emanuel Levinas, Marguerite Duras, Robert Antelme [marcados pelo silêncio intolerável dos campos de concentração]; e com Dionys Mascolo, Maurice Nadeau [geração da desobediência civil – Manifesto 121 – em favor da libertação da Argélia (60) e dos combates do maio (68) francês]. E em cada um desses encontros foi, paradoxalmente, ativo, generoso, distante. Manteve com esta Comunidade uma efetiva ética da Amizade.

Esse sentimento, essa afetividade tecida e atada por laços de Pensamentos, sem divisão e sem reciprocidade. Amizade cujo comum foi, mais que uma generosidade trivial, a inseparável distância. No colocar-se, efetivamente, ao outro, àquele que, como no poema de Rilke, reside na condição de quem sempre parte. Os errantes, esses ainda mais passageiros do que nós mesmos. Pressionando desde cedo.

Além disso, destaca-se que Blanchot – através de análises que romperam com os limites entre Literatura e Filosofia – exerceu uma Influência Ativa em pensadores como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Roger Laporte, Jean-Luc Nancy.  Como bem ilustra Deleuze [1998, p. 34] [na conexão Blanchot/Foucault]: “Foucault sempre reconheceu uma dívida em relação a Blanchot. Ela talvez se divida em três pontos: FALAR NÃO É VER, diferença que faz com que se dizendo o que não se pode ver, leve-se a linguagem a seu extremo limite. A seguir, a superioridade da terceira pessoa, o ELE ou o NEUTRO, o SE, em relação às duas primeiras. Por fim, o tema do FORA: a relação, que é também NÃO RELAÇÃO, com um FORA mais longínquo que todo o mundo exterior, e por isso mesmo próximo de todo mundo interior”. 

Com isso, percebe-se que a Literatura em Blanchot é invenção de Uma Vida, maneira de dar passagem a múltiplas possibilidades dessa vida, numa relação inteiramente desapossada do Uno, na qual o Experimento do ato Criativo extravasa uma potência Vivível ou Vital. Experiência de acesso ao que existe de mais singular no pensamento da Arte/Literatura, fio condutor de intensivos deslocamentos, território por excelência da Imanência de Uma Vida.

Para Blanchot, o pensamento daquele que é próximo abre-se, na amizade, para seu amigo, mas permanece inacessível não somente porque a vida é movente, mas porque a vida acolhe a estranheza do fim em sua iminência infinita. Assim, o Colóquio Literatura/Amizade: Uma Vida – 10 anos da morte de Maurice Blanchot – propõe-se, em forma de homenagem ao escritor francês, abordar Nele o conceito de Amizade. E no rastro deste conceito investigar os efeitos múltiplos da relação entre Blanchot e a Literatura, numa investida engendrada por pesquisadores e especialistas, cujo leitmotiv consiste em celebrar os 10 anos da Morte do escritor, mas em movimento contínuo para além-fim, o constante devir.

Nilson Oliveira, Curador do Colóquio

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